Fixação biológica de nitrogênio e fertilizantes nitrogenados no balanço de nitrogênio em soja, milho e algodão

m9 • mai. 14, 2019

Fixação biológica de nitrogênio e fertilizantes nitrogenados no balanço de nitrogênio em soja, milho e algodão

Bruno José Rodrigues Alves(1), Lincoln Zotarelli(2), Francisco Marques Fernandes(3), João Carlos Heckler(3),
Ricardo Antonio Tavares de Macedo(1), Robert Michael Boddey(1), Cláudia Pozzi Jantalia(1) e Segundo Urquiaga(1)

(1)Embrapa Agrobiologia, BR 465, Km 7, CEP 23890-000 Seropédica, RJ. E-mail: bruno@cnpab.embrapa.br, bob@cnpab.embrapa.br,
urquiaga@cnpab.embrapa.br (2)Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Dep. de Solos, BR 465, Km 7, CEP 23890-000 Seropédica, RJ.
E-mail: lzotarelli@ufrrj.br, ric.macedo@ibest.com.br (3)Embrapa Agropecuária Oeste, BR 163, Km 253,6, CEP 79804-970 Dourados, MS.
E-mail: fmarques@cpao.embrapa.br, heckler@cpao.embrapa.br

Resumo – O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos da fixação biológica de nitrogênio (FBN) da cultura da soja, e a eficiência do uso de fertilizantes nitrogenados (EUFN) pelas culturas de milho e algodão, no balanço de N de um Latossolo Vermelho distroférrico, sob plantio direto, em Dourados, MS. O estudo foi feito em dois anos, concentrando-se nas safras de verão. A contribuição da FBN para a soja foi avaliada pela técnica de abundância natural de 15N. A EUFN foi avaliada mediante a substituição dos fertilizantes nitrogenados convencionais pelos enriquecidos com 15N, nas culturas do milho e algodão. No primeiro ano, foram adicionados 115 kg ha-1 de N, de forma parcelada, para ambas as culturas; somente a parte aérea das plantas foi avaliada. No segundo ano, somente a cultura do milho foi avaliada, tendo recebido 70 kg ha-1 de N aos 29 DAE. Nesse ano, além da parte aérea do milho, amostrou-se também o solo, na profundidade de 0–20 cm. Nos dois anos de avaliação, a FBN foi superior a 80% do N nas plantas de soja, o que resultou em alta produtividade e em balanço positivo de N para o solo. A EUFN na parte aérea de milho e algodão, no primeiro ano, foi de 48 e 61%,  espectivamente. No segundo ano, a EUFN, na parte aérea do milho, foi de 46%, tendo-se observado que 24% do N do fertilizante permaneceu nos primeiros 20 cm de solo. Para os níveis de produtividade das culturas de milho e algodão, o manejo do fertilizante nitrogenado resulta em balanços negativos de N para o solo.
Termos para indexação: 15N, eficiência do uso de N, plantio direto.

Biological nitrogen fixation and nitrogen fertilizer on the nitrogen balance of soybean, maize and cotton

Abstract – The subject of this work was to evaluate the effect of biological nitrogen fixation (BNF) of soybean, and the nitrogen fertilizer use efficiency (NFUE) by maize and cotton, on the N balance of an Oxisol (Typic Haplorthox) under no-tillage, in Dourados, MS. The study was carried out for two consecutive years, focusing the summer crops. The BNF contribution to soybean was evaluated by the 15N natural abundance technique. The NFUE was evaluated by the substitution of conventional N fertilizers used for maize and cotton crops by 15N enriched ones. In the first year, both crops were fertilized with 115 kg N ha-1 split in three doses; only plant aerial parts were evaluated. In the second year, only the maize crop was evaluated and received 70 kg ha-1 N, as a dressing fertilization at 29 DAE. In that year, the aerial part of maize plants and the soil of a 0–20 cm layer were evaluated. For two consecutive harvests, the BNF contribution to soybean was over 80%, bringing about high yields and a positive N balance to the soil. In the first year, NFUE for aerial parts of maize and cotton were 48 and 61%, respectively. In the second year, NFUE for maize was 46%, and the soil layer of 0–20 cm also
retained 24% of de N fertilizer applied. For the yield levels of maize and cotton, the fertilizer management results in negative N balances to the soil.
Index-terms: 15N, N use efficiency, no-tillage.

Introdução
A prática de plantio direto ganhou espaço significativo no Sul do País pelo grande potencial em reduzir a erosão, que trazia problemas como o assoreamento de mananciais e a perda da camada fértil do solo.

Nas demais áreas do país, principalmente nos Cerrados, este sistema de plantio ganhou grande adesão em meados dos anos 90, por significar, entre outros benefícios, uma redução de custos pela diminuição das operações mecânicas do solo (Derpsch & Benites, 2003).

Resultados de diferentes regiões indicam que o plantio direto também pode favorecer a fixação biológica de nitrogênio (FBN) em leguminosas (Alves et al., 2003), processo importante na agricultura brasileira, que tem a soja como cultura principal na safra de verão. No entanto, o alto índice de colheita de N da cultura da soja, normalmente, equivale à proporção do N na planta derivado da FBN , o que se traduz em um balanço de N para o solo próximo da neutralidade (Zotarelli, 2000), embora ainda existam dúvidas quanto à real contribuição das raízes para o resultado final do balanço de nitrogênio.
As metodologias tradicional e isotópica, com 15N (Russel & Fillery, 1996), usadas para quantificar o N acumulado nas raízes das leguminosas, produzem resultados muito discrepantes, e há motivos para se acreditar que a primeira subestima o acúmulo de N (Peoples & Herridge, 2000) e a última superestima (Araújo, 2004). O balanço de N, realizado somente com a parte aérea da cultura, apesar da menor exatidão, permite caracterizar mais
facilmente culturas e manejos com grande importância para o enriquecimento do sistema com nitrogênio (Peoples et al., 1995; Kessel & Hartley, 2000).

O uso de fertilizantes em culturas de grãos e fibras também é importante na manutenção das reservas de N do solo. Alta produtividade com doses baixas de N, normalmente significa que a quantidade de N exportada com a colheita é maior do que a adicionada, o que contribui para empobrecer o solo. Alves et al. (2000) encontraram balanços positivos de N, em um estudo com rotação de culturas, quando uma leguminosa de inverno estava presente, ou quando a produtividade de milho foi baixa o suficiente para que a fertilização superasse a exportação de N nos grãos. Nesse estudo, no entanto,
considerou-se uma recuperação de 100% do N do fertilizante no sistema solo-planta, o que certamente não é uma situação comum. Existem evidências de que alguns processos que levam à perda de N ocorrem de forma mais intensa em áreas sob plantio direto, especialmente pela volatilização de amônia (Lara- Cabezas et al., 1997).

Um sistema agrícola, ambientalmente sustentável, requer que as reservas de nutrientes e matéria orgânica do solo sejam preservadas ao longo dos anos (Greenland, 1975). Uma vez que os conteúdos de C e de N do solo estão diretamente relacionados, variando numa relação entre 12:1 e 18:1, quando se considera a matéria orgânica estável do solo, rotações de culturas em que as perdas de N, com a exportação de N nos órgãos colhidos, sejam maiores do que as entradas de N, promoverão a perda de C do solo, ou matéria orgânica, e são consideradas insustentáveis ao longo do tempo (Urquiaga et al., 2005).
Na região dos Cerrados, a soja é a leguminosa de maior importância em termos de área plantada, e apresenta total dependência da FBN. Outras culturas,
comumente plantadas em rotação com a soja, são milho e algodão, tal como ocorre na região de Dourados, MS (Produção…, 2003). Na chamada safrinha, plantam-se mais freqüentemente gramíneas, e as doses de fertilizante nitrogenado são reduzidas em comparação às da safra. Dessa forma, a manutenção dos estoques de N do solo, nessa região, depende de um sistema simbiótico altamente eficiente para a cultura da soja e do eficiente uso de fertilizantes nitrogenados pelas culturas, especialmente milho e algodão.
O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da FBN da cultura da soja e a eficiência do uso de fertilizantes nitrogenados (EUFN) pelas culturas de milho e algodão, no balanço de N de um Latossolo Vermelho distroférrico, sob plantio direto.

Material e Métodos

O estudo foi conduzido na área experimental da Embrapa Agropecuária Oeste, situada no Município de Dourados, MS. Nesta região, as chuvas concentram-se nos meses de outubro a abril. O inverno é mais seco, porém não impede a exploração agrícola sem o auxílio da irrigação. O solo da região é classificado como Latossolo Vermelho distroférrico (Embrapa, 1999), com textura argilosa (67% argila). Os resultados da análise química do solo, nas profundidades de 0–10 e 10–20 cm, antes da implantação do experimento, estão descritos na Tabela 1.
No inverno de 2000, delimitaram-se as parcelas experimentais com dimensões de 12 m de largura por 24 m de comprimento. Foram estudadas três rotações de culturas, com três repetições, num delineamento em blocos ao acaso.

Duas das rotações foram iniciadas com a cultura de aveia e a terceira com nabo forrageiro, todas sob plantio direto, depois da dessecação da vegetação
espontânea ali existente. No verão de 2000/2001, foram plantadas as sementes de milho (híbrido Agromen 3180) depois do nabo forrageiro, e as de soja (cultivar BR 16) e algodão (cultivar CD 403), depois da aveia. A cultura da soja recebeu fertilização com P e K, e suas sementes passaram por inoculação de Bradyrhizobium spp. As culturas de milho e de algodão foram fertilizadas com N, P e K. O fertilizante nitrogenado foi aplicado na dose de 115 kg ha-1 de N, parcelada em 25 kg ha-1 de N no plantio, na forma de uréia colocada no sulco, e mais duas doses de 45 kg ha-1 de N, na forma de sulfato de
amônio, em cobertura, aplicadas numa faixa ao lado da linha de semeadura, aos 26 e 48 dias depois da emergência (DAE). No inverno do ano 2001, semeouse aveia nas parcelas ocupadas por milho e algodão durante o verão, e nabo forrageiro naquelas plantadas com soja. No segundo ano de avaliação do experimento (safra de verão), o milho foi semeado nas parcelas cuja seqüência anterior foi aveia-soja-nabo forrageiro; a soja, naquelas cuja seqüência anterior foi nabo forrageiromilho-aveia. A cultura do algodão foi plantada na terceira rotação, porém não foi avaliada nesse segundo ano. A cultura da soja foi fertilizada e passou por inoculação como na safra anterior. As culturas de milho e algodão receberam uma dose menor de N. Foram aplicados 70 kg ha-1 de N em cobertura, na faixa ao lado da linha de semeadura, na forma de sulfato de amônio, aos 29 DAE.

As avaliações, descritas a seguir, foram feitas com as culturas de soja e de milho no primeiro e segundo anos (safras de 2000/2001 e de 2001/2002), e com a cultura de algodão apenas no primeiro ano.

A produção de grãos foi obtida pela colheita da faixa central de cada parcela, correspondente à área útil de aproximadamente 120 m2. A massa de matéria seca acumulada pela parte aérea das plantas foi estimada pela amostragem de uma área de 3 m2 dentro de cada parcela, fora da área para produção de grãos, tendo sido a soja amostrada no estádio R6, o algodoeiro no 12o estádio de desenvolvimento, e o milho, depois do pleno enchimento dos grãos. Depois da determinação da matéria seca (estufa a 65oC), amostras dos materiais colhidos foram moídas e analisadas quanto ao conteúdo de N total (Alves et al., 1994).

A contribuição da FBN foi quantificada, para a cultura da soja, pela técnica de diluição isotópica de 15N, baseada na abundância natural desse isótopo (Shearer & Kohl, 1986). Além das amostras da parte aérea das plantas de soja, obtidas no estádio R6, espécies espontâneas, não-leguminosas, foram também coletadas das mesmas parcelas para serem utilizadas como referência da abundância natural de 15N do N disponível no solo. O material colhido foi secado a 65oC, moído e analisado para abundância natural de 15N (Okito et al., 2004). A porcentagem de N derivada da FBN na planta (%FBN)
foi calculada pela fórmula %FBN = [(δ15Νc – δ15Ns)/δ15Νc – B)]100, em que δ15Nc e δ15Ns correspondem aos valores de abundância natural de 15N das plantascontrole e da soja, respectivamente; e B é uma constante relacionada ao processo de discriminação isotópica de 15N pelo processo da FBN, aqui considerada como sendo -1,3 deltas (Bergersen et al., 1988). A quantidade total de N na planta derivada da FBN foi calculada pela multiplicação da %FBN pelo total de N acumulado pela planta.

A avaliação da EUFN foi feita em microparcelas estabelecidas dentro das parcelas de milho e algodão. Cada microparcela correspondeu a duas linhas de
plantas de 2 m, colhendo-se 1,5 m centrais de cada, nos mesmos estádios descritos para a avaliação da matéria seca das plantas. Na safra de 2000/2001, as plantas de milho e algodão das microparcelas receberam os fertilizantes nitrogenados, conforme descrito anteriormente, porém usando-se fertilizantes enriquecidos com 5% de átomos de 15N. Cada microparcela recebeu todas as doses dos fertilizantes nitrogenados, porém, dependendo da microparcela, apenas uma das doses foi enriquecida com 15N. Assim, no primeiro ano, cada parcela teve três microparcelas, pois foram avaliadas a dose de plantio e
duas aplicações em cobertura. Isso permitiu avaliar a eficiência do uso do N, em cada época de aplicação, e a eficiência integrada para o período de crescimento das culturas (Alves et al., 2005). Na safra de 2001/2002, a EUFN foi avaliada somente para a cultura do milho. Os 70 kg ha-1 de N, aplicados em cobertura, foram marcados com 5% de átomos de 15N em excesso. Assim, somente foi demarcada uma microparcela em cada parcela, tomando-se o cuidado de não usar áreas ocupadas com microparcelas do ano anterior. Somente no segundo ano, de cada microparcela marcada com 15N, foi retirado um monólito de solo de 0,30 m de comprimento e 1 m de largura (linha de milho localizada no centro), na profundidade de 0,20 m, para se avaliar a
fração do fertilizante nitrogenado que permaneceu no solo.

As plantas de milho e algodão, colhidas das microparcelas (milho e algodão no primeiro ano e milho no segundo), foram divididas em caule/colmo + folhas e frutos. O material foi secado em estufa a 65oC e finamente moído. As amostras de solo, obtidas apenas no segundo ano, nas microparcelas com milho, foram pesadas e subamostradas para determinação do peso total, depois da secagem em estufa a 105oC. Essas mesmas amostras secas foram finamente moídas e analisadas para o conteúdo de N total (Alves et al., 1994). Tanto as amostras moídas de solo quanto às de plantas foram analisadas para o enriquecimento de 15N (Okito et al., 2004).

A eficiência do uso de fertilizantes nitrogenados (%) foi calculada pela fórmula EUFN =  QNPSf/QF)100, em que QNPSf é a quantidade de N derivado do fertilizante presente na planta, ou no solo, e QF é a quantidade de N aplicada como fertilizante. A QNPSf foi calculada multiplicando-se a quantidade de N total da planta, ou do solo, pela porcentagem de N da planta, ou do solo, derivada do fertilizante (%NPSf). A %NPSf foi calculada pela fórmula %NPSf = (%15Nps/%15Nf)100, em que %15Nps é a porcentagem de átomos de 15N em excesso na planta, ou solo; e %15Nf é a porcentagem de átomos de 15N do fertilizante em excesso.

No cálculo do balanço de N para a soja (ΔN), considerou- se o total de N acumulado pela cultura (QNc), a porcentagem do N acumulado na planta derivado da FBN (%FBN) e o total de N existente nos grãos colhidos (QNg): ΔN = [(QNc × %FBN)/100] – QNg.

Para milho e algodão, considerou-se o total de N adicionado pelo fertilizante (QF) e o total de N exportado nos grãos e capulhos (QNg), respectivamente.
Os dados de EUFN total (EUFNt) foram utilizados para avaliar o total de N do fertilizante que permaneceu no sistema:
ΔN = [(QF × FUFNt)/100] – QNg
EUFNt = [(QNPf + QNSf)/QF]100,
em que QNPf é a quantidade de N do fertilizante recuperada na planta e QNSf é a quantidade recuperada no solo até a profundidade amostrada.
Os resultados médios de produção e FBN foram acompanhados do erro-padrão da média. Depois da análise de variância, determinou-se a diferença mínima significativa (teste LSD de Student), para verificar diferenças na EUFN, obtidas para as fertilizações aos 26 e 48 DAE, no primeiro ano de estudo para a cultura do milho e do algodão, separadamente.

Para avaliar se as médias estimadas do balanço de N, para cada cultura, eram diferentes de zero, calculou-se o intervalo de confiança a 95% para cada uma, utilizando-se o erro-padrão da média e o valor da distribuição t de Student.

Resultados e Discussão

A produtividade das culturas de soja, milho e algodão, em ambas as safras, esteve próxima dos números normalmente esperados para a região (Tabela 2). A soja foi a cultura que mais acumulou N nos grãos e, conseqüentemente, foi a responsável pela maior exportação do nutriente do sistema (Tabela 2). O total de N acumulado nos grãos de soja e milho, no primeiro ano, correspondeu, respectivamente, a 86 e 68% do total de N acumulado na parte aérea. Os capulhos corresponderam a 87% do N na parte aérea das plantas de algodão. No segundo ano, os grãos corresponderam a 83 e 70% do N acumulado na parte aérea das plantas de soja e milho, respectivamente.

Os índices de colheita de N encontrados para as culturas são, certamente, superestimados por não ter sido considerado o total desse nutriente presente nas raízes. No caso da soja, o N presente nas raízes poderia significar de 3 a 30% do N acumulado pela planta, dependendo da idade da cultura e do método de quantificação utilizado (Peoples & Herridge, 2000; Zotarelli, 2000; Araújo, 2004).

A contribuição da FBN para as plantas de soja variou de 83 a 88% (Tabela 3). A elevada eficiência da FBN, obtida nos dois anos do experimento, indica que a utilização do plantio direto, entre outros benefícios, parece estimular o processo simbiótico, provavelmente pela menor disponibilidade de N no solo, em razão da maior imobilização da população microbiana do solo (Kessel & Hartley, 2000). Os porcentuais de FBN encontrados estão dentro do que se estimou em 21 propriedades, em um levantamento feito por Macedo (2003), para a cultura da soja no noroeste do Estado do Paraná. Segundo esse
autor, nos primeiros anos do cultivo da soja, sob plantio direto, são esperadas altas contribuições da FBN, respeitando-se os procedimentos e recomendações para inoculação na cultura e condicionamento da fertilidade do solo.

Em função do bom desenvolvimento da cultura da soja, as quantidades de N derivadas da FBN foram elevadas, com variação entre 176 e 193 kg ha-1 de nitrogênio (Tabela 3). Porém, os valores devem ter sido ainda maiores, uma vez que o N acumulado nas raízes não foi quantificado.

No primeiro ano de avaliação da fertilização nitrogenada das culturas de milho e algodão, foram encontrados, respectivamente, resultados de EUFN de
18 e 23% para os 25 kg ha-1 de N aplicados ao plantio (Figura 1). Valores mais elevados de EUFN, de 62% para milho e 71% para algodão, foram encontrados para a dose de 45 kg ha-1 de N, na aplicação realizada aos 26 dias depois da emergência (DAE). A maior EUFN ocorreu aos 26 DAE (45 kg ha-1 de N), mesmo sendo a dose de N quase o dobro da aplicada no plantio. As EUFN obtidas para milho e algodão, na dose aplicada 48 DAE, foram, respectivamente, 50 e 72%, e não foram estatisticamente diferentes das obtidas aos 26 DAE, na comparação dentro de cada cultura. A baixa EUFN
observada na dose de plantio pode estar relacionada à perda de N por volatilização de amônia, uma vez que a fonte aplicada foi uréia. Embora o adubo tenha sido incorporado, as perdas de N por este processo podem ser significativas (Lara-Cabezas et al., 1997). Outra possibilidade para a baixa EUFN da dose de plantio seria a imobilização do N na matéria orgânica do solo que ocorre nos primeiros anos de adoção do sistema plantio direto, principalmente quando a fertilização é feita depois da aveia (Boddey et al., 1997).

Considerando-se os 115 kg ha-1 de N, aplicados de forma parcelada, encontrou-se uma EUFN de 48% para a cultura do milho, e de 61% para a do algodão (Figura 1). Os valores encontrados para a cultura do milho corresponderam à faixa média para a cultura, enquanto que a observada para algodão pode ser considerada elevada, de acordo com Balasubramanian et al. (2004). No entanto, esses autores reconhecem que grande número de fatores pode interferir na EUFN, especialmente a disponibilidade de água e o momento da aplicação do fertilizante.

As estimativas de EUFN para a dose total aplicada não significam, necessariamente, que as perdas de N do fertilizante chegaram a 50%, em média. Parte do fertilizante não utilizado pode se manter no solo e estar disponível para culturas subseqüentes (Urquiaga & Zapata, 2000). Pelos resultados obtidos no segundo ano, no estudo feito com a cultura do milho, a parte aérea, incluindo os grãos, continha 46% dos 70 kg ha-1 de N adicionados em cobertura (Figura 2), uma eficiência muito próxima da encontrada no ano anterior. No entanto, a análise do solo da camada de 0–20 cm permitiu estimar
que 24% do N adicionado em cobertura ainda se encontrava no solo, depois da colheita do milho (Figura 2). Dessa forma, contabilizando-se todo o N recuperado do fertilizante, foi possível estimar que aproximadamente 70% do N adicionado em cobertura encontrava-se no sistema solo-planta. Por esta estimativa, pode-se deduzir que cerca de 21 kg ha-1 de N foram perdidos do sistema, ou por volatilização ou por lixiviação para camadas mais profundas. Embora 85% da matéria seca das raízes de milho se encontrem na profundidade de 0–20 cm, as raízes que se distribuem abaixo deste limite são
predominantemente raízes finas (φ<0,12 cm), com comprimento radicular semelhante ao das camadas superficiais (Venzke Filho et al., 2004). Essa
característica faz levantar a hipótese de que parte do fertilizante não recuperado tenha ficado imobilizado nas raízes das camadas mais profundas, não recuperadas na amostragem realizada até 20 cm de profundidade. De acordo com Peoples et al. (2004), em média, 19 a 38% do fertilizante nitrogenado, aplicado a culturas de grãos, permanece no solo depois da colheita. Assim, em razão dos resultados obtidos e da literatura disponível, pode-se assumir que nas condições deste trabalho, pelo menos 25% do fertilizante nitrogenado permaneceu no solo depois da colheita.

A alta contribuição da FBN para as plantas de soja compensou a quantidade de N exportada nos grãos, na ocasião da colheita (Tabela 4). Perdas originadas do N derivado da FBN podem ser consideradas praticamente nulas até a colheita da cultura, porém tendem a aumentar, dependendo da qualidade do resíduo de colheita (Jensen & Hauggaard-Nielsen, 2003). No primeiro ano, a grande quantidade de N alocada nos grãos e exportada com a colheita resultou em um balanço de N negativo para a cultura da soja, em torno de -8 kg ha-1. No segundo ano, o balanço de N para a cultura foi positivo e representou uma entrada de N para o sistema de 10 kg ha-1, que foi relacionado à menor produtividade da cultura e à alta contribuição da FBN.

O erro experimental encontrado no balanço de N para a cultura da soja, no primeiro ano, mostra que o resultado negativo não foi estatisticamente diferente de zero. Além disso, valores mais positivos seriam observados com a inclusão do N acumulado no sistema radicular, embora, por motivos metodológicos, ainda seja incerta a magnitude do incremento. Araújo (2004) mediu a quantidade de N presente nas raízes de plantas de soja, durante o crescimento da planta, utilizando o método tradicional de tamisação de um volume conhecido de solo, onde se encontra o sistema radicular da cultura.
A máxima quantidade de N presente nos tecidos radiculares foi observada aos 84 DAE, o que correspondeu a 5% do total acumulado pela cultura.
Considerando-se o método baseado no uso do isótopo 15N – que inclui o N mineralizado de raízes mortas, de exsudatos, e de raízes não recuperadas pelo
método tradicional (Russel & Fillery, 1996) –, o N das raízes da soja corresponderia, em média, a 30% do N acumulado na planta (Peoples & Herridge, 2000).

Pode-se afirmar, pelos estudos acima, que as plantas de soja teriam acumulado uma quantidade total de N pelo menos 5% superior à observada, o que implicaria em um balanço de nitrogênio de +2 kg ha-1 de N no primeiro ano, e de +19 kg ha-1 de N no segundo. Assim, nas condições deste trabalho, a FBN na soja seria suficiente para garantir alta produtividade e manter o balanço de N do solo positivo, ou pelo menos próximo à neutralidade. Além da correção da fertilidade do solo e do uso de inoculantes apropriados, o uso do plantio direto deve ter sido um dos fatores de maior importância no
balanço de N, obtido para a cultura da soja (Alves et al., 2000, 2003).

A quantidade de fertilizante aplicada na cultura do milho, associada ao parcelamento da dose, foi importante para o resultado do balanço de N, obtido
no primeiro ano de estudo (Tabela 4). A maior dose de N aplicada, de certa forma, colaborou para a maior produtividade da cultura, além de ter compensado o N exportado nos grãos e o N perdido no sistema. No segundo ano, a menor quantidade de fertilizante, aplicada em uma única vez em cobertura, resultou em um balanço de N muito negativo para o solo. Para a cultura do algodão, maiores doses de N seriam necessárias para compensar a exportação de N do sistema, apesar da alta eficiência de uso do fertilizante pela cultura.

O aumento das doses de fertilizantes nitrogenados representa maior risco ambiental (Peoples et al., 2004), e por isso, antes de se aumentar doses, deve-se pensar no manejo do sistema para otimizar as doses atuais. A consideração da soja como componente da rotação de culturas pode resultar em balanços mais positivos para o sistema, se o sistema fixador de N2 funcionar com alta eficiência. O uso de adubos verdes de inverno seria boa alternativa, para garantir o balanço positivo de N para o sistema e para reduzir a necessidade de fertilizantes nitrogenados para a cultura sucessora (Zotarelli et al., 2000).

Conclusões

1. A fixação biológica de N na cultura da soja, com inoculação de rizóbio e sob plantio direto, proporciona alta produtividade de grãos e balanço positivo de N para o sistema.
2. Para os níveis de produtividade das culturas de milho e algodão sob plantio direto, o manejo adotado para o fertilizante nitrogenado pode resultar em balanço negativo de N para o solo.

Agradecimentos
À Embrapa, ao IAEA/FAO, à Capes e ao CNPq, pelo suporte financeiro; aos operários e técnicos da Embrapa Agropecuária Oeste e à Embrapa Agrobiologia, pelo auxílio na condução do experimento, coleta e análise de amostras.

Referências
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EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de Janeiro, RJ). Sistema brasileiro de classificação de solos. Rio de Janeiro, 1999. 412p.

Por Anderson Oliveira 23 mai., 2023
A Oceana Minerals foi reconhecida mais uma vez, por sua admirável gestão e desenvolvimento de negócios, inspiração de empresa sustentável e pelo comprometimento com o modelo de excelência Latin American Excellence Model (LAEM), sustentado por quatro pilares fundamentais Q-ESG: Qualidade, Sustentabilidade, Responsabilidade Social e Governança. Esse modelo orienta as empresas no processo de compromisso formal com o conceito de Responsabilidade Total criado pela Latin American Quality Institute (LAQI) e auxilia as instituições a obterem altos níveis de desempenho ao longo do tempo.
Por Anderson Oliveira 31 mar., 2023
Foi com muita gratificação que, na noite de sexta-feira (24/03/2023), a Oceana Minerals participou da 30ª edição do evento de premiação Marketing & Negócios – Sustentabilidade e Agronegócios.
Por Anderson Oliveira 17 nov., 2022
Desde a confirmação do resgate com vida de todos os tripulantes, o objetivo primário da Oceana Minerals sobre o naufrágio passou a ser a proteção do meio ambiente. Especialmente pela existência de aproximados 9 mil litros de hidrocarbonetos nos tanques da draga naufragada.
Por Anderson Oliveira 18 out., 2022
Nossa equipe da Oceana Minerals e os profissionais contratados especializados em controle ambiental estão muito ativos desde a ocorrência do acidente com a draga Tremembés. Estamos visitando praias e o local do naufrágio da embarcação.
Por Anderson Oliveira 09 out., 2022
Informamos o naufrágio da embarcação TREMEMBÉS, ocorrido por volta das 5h30 da manhã deste domingo, 9, durante seu retorno ao Porto de Salinas, no Maranhão. Todos os 9 tripulantes foram resgatados com vida e passam bem. A empresa está prestando assistência direta às vítimas e seus familiares. As circunstâncias do acidente estão sendo investigadas por autoridades públicas e pela Oceana com a finalidade de apurar causas, eventuais responsabilidades e as medidas necessárias para mitigar potenciais desdobramentos. Todos os contatos com a imprensa se darão pela assessoria especializada 24×7 Comunicação. Pedimos para encaminhar os pedidos de entrevistas e informações ao email oceana@24x7comunicacao.com.br.
Por Oceana Minerals 24 mar., 2022
Quando o assunto é fertilizantes minerais, o agronegócio brasileiro vive dois momentos. Um ligado a crise causada por diversos fatores externos, econômicos e, ainda em consequência da pandemia, uma provável escassez dos fertilizantes para a safra 22/23. O outro, prevê uma projeção de crescimento e desenvolvimento no setor de pesquisa e tecnologia de bioinsumos para […] O post Falta de Fertilizantes no mercado abre oportunidade para bioinsumos apareceu primeiro em Oceana Minerals.
Por wpengine 13 set., 2021
Um estudo recente da Scot Consultoria apontou que 28% dos bovinos confinados têm problemas de acidose ruminal. No Brasil, cerca de 25% das vacas leiteiras são acometidas pela doença. Nos Estados Unidos, o índice segue a mesma estimativa, atingindo de 20% a 25% das vacas leiteiras do país. Segundo o zootecnista Carlos Massambani, a doença […] O post LithoNutri no combate à acidose ruminal apareceu primeiro em Oceana Minerals.
Por wpengine 11 mar., 2021
Além das técnicas de manejo, cuidados de salubridade com as baias e todo o ambiente onde o animal fica, atenção veterinária entre outros fatores, a nutrição animal é de extrema relevância para potencializar a performance da criação. Fortalece o sistema imune e garante melhores rendimentos para o produtor rural. Ter um plano de nutrição envolve […] O post Nutrição Animal – 7 dicas para melhorar a performance do seu rebanho apareceu primeiro em Oceana Minerals.
Por wpengine 04 mar., 2021
O Lithothamnium é um gênero de algas marinhas que vive de 10 a 15 anos em mar aberto. Composto por mais de 70 nutrientes equilibrados, as grandes colônias de Lithothamnium são utilizadas há décadas como matéria prima natural para nutrição animal e vegetal.  Além do fator nutricional, que inclui componentes minerais e orgânicos, melhora as […] O post Lithothamnium: Tudo o que você precisa saber sobre esta alga apareceu primeiro em Oceana Minerals.
Por Clayton Vieira 26 fev., 2021
A pecuária brasileira está vivenciando um cenário de alta nos preços do boi gordo. Atrelado a isso temos uma comercialização mais restrita, já que o pecuarista está ofertando animais de forma paulatina e os frigoríficos estão trabalhando com escalas de abate mais curtas, temendo uma retração de consumo. Acredita-se que este cenário deve perdurar até […] O post Novas tecnologias na Pecuária: Como introduzir e os impactos econômicos apareceu primeiro em Oceana Minerals.
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